Vela: a modalidade anti fast consumption

No projeto Crescer pelo Mar, que conta com mais de 800 horas de formação na vertente do técnico marítimo-turístico, 376 horas (47%) foras destinadas aos conteúdos de vela – vela de competição, de cruzeiro e oceânica. 

Esta área detém uma grande fatia da carga horária por diversos motivos, desde a realização de formações em barcos à vela ligeira, até à participação em expedições à vela pela costa algarvia. O mais importante desta modalidade é que para o âmbito do curso e da formação que é o Crescer pelo Mar, é a importância de trabalhar em equipa. Segundo o nosso formador Sérgio Cardoso, a prática da vela é uma das modalidades náuticas em maior expansão em Portugal e existem opções para qualquer tipo de idade e condição física.

Em relação à importância que esta modalidade tem para a formação dos futuros profissionais técnicos marítimo-turísticos, Sérgio diz o seguinte: “Atualmente, um profissional de marítimo-turística, tem de ser capaz, de forma autónoma, sobre orientação ou integrado numa equipa, desenvolver atividades náuticas em várias modalidades, prestar informações, promover e comercializar produtos e serviços.” 

O formador Pedro Fernandes partilha da opinião que a vela é uma modalidade que ajuda a controlar egos e a lidar com diferentes personalidades. A vela é um desporto coletivo, pelo que implica a gestão da tripulação, uma comunicação eficaz entre os membros da tripulação para chegarem do ponto A ao B sem percalços. Num espaço tão pequeno como é uma embarcação, nem sempre é fácil lidar com o outro, pelo que nesta modalidade a comunicação e relações inter e interpessoais são trabalhadas.

Pedro ainda acrescente que não é um desporto fácil, onde existem vários fatores que não se podem controlar e a adversidade é algo constante. Por estes motivos, é uma modalidade benéfica para jovens que estão habituados a ter tudo o que querem com um “clique” ou com um “sim” ou “não”. A vela leva tempo. É necessário mais que uma hora para aparelhar o barco e ir para o mar, e mais de outra hora para regressar a terra, desemparelhar o barco e poder sair da marina, para voltar para casa. Não é uma modalidade de consumo rápido, onde o participante afirma que já não quer mais e pode cessar a atividade. É uma modalidade desafiante, porque tem características que não existem noutras.

Assim, a modalidade de vela, no panorama da formação que este projeto integra, é das atividades mais complexas, mas também mais completa. A diversidade de embarcações que os formandos puderam experienciar, aliadas ao meio natural da Ria Formosa e mar da costa do Algarve, combinadas, tornaram todas as sessões únicas e uma mais valia na formação profissional destes jovens. 


Formação de Vela Oceânica

Os formandos do Crescer pelo Mar tiveram, no dia 20 e 21 de abril de 2022, o seu batismo de vela oceânica, através das formações empreendidas. Por se tratar de um grupo grande, o mesmo teve de ser dividido em dois dias, os quais acabaram por ser completamente diferentes devido às condições meteorológicas existentes. 

O rumo a seguir dia 20 foi Olhão – Vilamoura, onde participaram 5 elementos. O ponto de encontro para formandos e formadores foi a Marina de Olhão, onde todos embarcaram no Blue Swan para se realizar o briefing inicial. Após ser explicado como iria correr o dia, questões de segurança e utilização da casa de banho, os formandos foram convidados a assistir a como se coloca um estai e a auxiliar na partida da marina (soltar cabos, defensas, velocidade, profundidade, obstáculos, rumo, condições meteorológicas). 

Após a saída da barra Faro – Olhão e de procurar algum abrigo do vento atrás do molhe, a vela grande e o estai foram içados e o motor desligado. Assim se iniciou a travessia até Vilamoura. Uma vez que o vento estava contra e as vagas eram moderadas, a travessia revelou-se um pouco mais atribulada, com mais propensão para enjoos e mal-estar no seio do grupo dos formandos. De uma forma geral a formação foi bem-sucedida, porque todos os formandos participaram nas tarefas a bordo: leme e escotas, mas a questão das condições adversas impediu que se fizesse trabalho de carta e que a travessia fosse mais tranquila. 

Quanto ao segundo dia, este revelou-se diferente, como esperado: vento a favor e vagas a entrar pela popa da embarcação (ao invés das vagas a entrar pela proa no dia anterior, que provocavam constantes altos e baixos). Com o grupo presente neste dia foi possível realizar outras tarefas, não só devido às condições meteorológicas, mas também aos recursos disponíveis. Antes de iniciar a travessia os formandos puderam presenciar e auxiliar no processo de troca de uma genoa (vela da frente) e da importância de uma boa gestão destes materiais, para prolongar a sua vida. Devido a problemas técnicos com os cabos do enrolador da genoa, foi necessário içar um tripulante ao mastro, para solucionar o problema – o que foi um acrescento à panóplia de experiências dos formandos. 

Após realizado o check-out, deu-se início à travessia Vilamoura-Olhão, onde os formandos puderam desempenhar funções de tripulação nas escotas da vela grande e da genoa, e também ao leme. Com o vento a favor o principal desafio foi controlar o leme da embarcação face às vagas que entravam pela popa do veleiro e faziam com que o mesmo mudasse de rumo, mas de uma forma geral foi uma travessia mais confortável que a do dia anterior.